Será que funciona a decoreba de regras gramaticais para se dar bem na prova de Linguagens e Códigos do Enem? Não basta saber de cor o que é uma oração subordinada ou onde colocar uma vírgula. O que será avaliado é se você consegue usar a gramática para interpretar um texto, perceber nuances, identificar erros ou ambiguidades e, claro, entender o que está sendo comunicado. 

No Enem, a gramática está sempre envolvida em contextos reais, como trechos de artigos, poesias, conversas e até propagandas. Ou seja, ao invés de só perguntar “o que é concordância nominal?”, a prova vai pedir para você identificar como a concordância faz sentido dentro de um texto. Isso exige interpretação e aplicação do que você sabe, o que vai além da simples memorização de regras.

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Como estudar gramática?

A melhor maneira de estudar gramática para o Enem é praticando a leitura de diferentes tipos de textos e entendendo como as regras gramaticais se aplicam em cada caso. Observe a coesão e coerência, a concordância, o uso de pronomes e a pontuação dentro dos textos, pois essas são áreas frequentemente exploradas. Não se preocupe em memorizar todas as regras, mas sim em saber interpretá-las e utilizá-las dentro de um contexto.

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“Na prova de redação, por exemplo, é avaliado o domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa, ou seja, contempla o léxico, a construção sintática e as normas gramaticais. Isso significa que, para você tirar uma boa nota, será preciso demonstrar o correto emprego da crase, da ortografia, da concordância (verbal e nominal), da regência (a verbal especialmente), da colocação pronominal e da pontuação. Aqui a decoreba não funciona”, explica Margarete Xavier, autora de Língua Portuguesa do Fibonacci Sistema de Ensino.

Os tópicos mais abordados

Segundo a professora, os assuntos de gramáticas que mais caem no Enem são:

Veja, abaixo, quatro exemplos de questões do Enem de anos anteriores, com as respostas do Anglo Resolve.

Enem 2023 – uso de figuras de linguagem

Questão 25 (caderno azul)

Passado muito tempo, resolvi tentar falar, porque estava sozinha me embrenhando na mesma vereda que Donana costumava entrar. Ainda recordo da palavra que escolhi: arado. Me deleitava vendo meu pai conduzindo o arado velho da fazenda carregado pelo boi, rasgando a terra para depois lançar grãos de arroz em torrões marrons e vermelhos revolvidos. Gostava do som redondo, fácil e ruidoso que tinha ao ser enunciado.” “Vou trabalhar no arado.” “Vou arar a terra.” “Seria bom ter um arado novo, esse arado tá troncho e velho.” O som que deixou minha boca era uma aberração, uma desordem, como se no lugar do pedaço perdido da língua tivesse um ovo quente. Era um arado torto, deformado, que penetrava a terra de tal forma a deixá-la infértil, destruída, dilacerada.

VIEIRA JR., I. Torto arado. São Paulo: Todavia. 2019.

Com a perda de parte da língua na infância, a narradora tenta voltar a falar. Essa tentativa revela uma experiência que

a) reflete o olhar do pai sobre as etapas do plantio.

b) metaforiza a linguagem como ferramenta de lavoura.

c) explicita, na busca pela palavra, o medo da solidão.

d) confirma a frustração da narradora com relação à terra.

e) sugere, na ausência da linguagem, a estagnação do tempo.

Resolução

Neste trecho representativo do célebre romance de Itamar Vieira Jr, há uma aproximação entre a língua (por extensão, a linguagem, a produção de sentido com os sons) e o arado (o trabalho com a terra, central na comunidade da personagem). Quando tenta articular os sons da palavra “arado”, a personagem diz que lhe sai “uma aberração, uma desordem” e então se vale de uma metáfora: aquilo “era um arado torto”. O verbo ser estabelece uma semelhança sem uso de comparativo, definição exata de metáfora.

Resposta: letra b.

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Enem 2023 – regra de pontuação 

Questão 34 (caderno rosa)

Como é bom reencontrar os leitores da Revista da Cultura por meio de uma publicação com outro visual, conteúdo de qualidade e interesses ampliados! ]cultura[, este nome simples, e eu diria mesmo familiar, nasce entre dois colchetes voltados para fora. E não é por acaso: são sinais abertos, receptivos, propícios à circulação de ideias. O DNA da publicação se mantém o mesmo, afinal, por longos anos montamos nossas edições com assuntos saídos das estantes de uma grande livraria — e assim continuará sendo. Literatura, sociologia, filosofia, artes… nunca será difícil montar a pauta da revista porque os livros nos ensinam que monotonia é só para quem não lê.

HERZ, P. ]cultura[.n. 1. jun 2018 (adaptado).

O uso não padrão dos colchetes para nomear a revista atribui-lhes uma nova função e está correlacionado ao(à)

a) perfil de público-alvo, constituído por leitores exigentes e especializados em leitura acadêmica. 

b) propósito do editor, chamando a atenção para o rigor normativo nos textos da revista. 

c) exclusividade na seleção temática, direcionada para a área das ciências humanas. 

d) identidade da revista, voltada para a recepção e a promoção de ideias circulantes em livros. 

e) padrão editorial dos artigos, organizados em torno de uma proposta de design inovador.

Resolução

O emprego de colchetes voltados para fora constitui um procedimento não padrão, já que o usual se define pelo uso de colchetes voltados para dentro (caso em que se estabelece uma rígida delimitação). No caso da revista ]cultura[, o emprego excepcional dos colchetes, voltados para fora, sinaliza para as ideias de não represamento, de abertura, de receptividade – o que se alinha à identidade da revista, conforme apresentada pelo texto.

Resposta: letra d.

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Enem 2022 – sequências verbais e nominais

Questão 40 (caderno rosa)

Morte lenta ao luso infame que inventou a calçada portuguesa. Maldito D. Manuel I e sua corja de tenentes Eusébios. Quadrados de pedregulho irregular socados à mão. À mão! É claro que ia soltar, ninguém reparou que ia soltar? Branco, preto, branco, preto, as ondas do mar de Copacabana. De que me servem as ondas do mar de Copacabana? Me deem chão liso, sem protuberâncias calcárias. Mosaico estúpido. Mania de mosaico. Joga concreto em cima e aplaina. Buraco, cratera, pedra solta, bueiro-bomba. Depois dos setenta, a vida se transforma numa interminável corrida de obstáculos. A queda é a maior ameaça para o idoso. “Idoso”, palavra odienta. Pior, só “terceira idade”. A queda separa a velhice da senilidade extrema. O tombo destrói a cadeia que liga a cabeça aos pés. Adeus, corpo. Em casa, vou de corrimão em corrimão, tateio móveis e paredes, e tomo banho sentado. Da poltrona para a janela, da janela para a cama, da cama para a poltrona, da poltrona para a janela. Olha aí, outra vez, a pedrinha traiçoeira atrás de me pegar. Um dia eu caio, hoje não.

TORRES, F. Fim. São Paulo: Cia. das Letras, 2013.

O recurso que caracteriza a organização estrutural desse texto é o(a)

a) justaposição de sequências verbais e nominais. 

b) mudança de eventos resultante do jogo temporal. 

c) uso de adjetivos qualificativos na descrição do cenário. 

d) encadeamento semântico pelo uso de substantivos sinônimos. 

e) inter-relação entre orações por elementos linguísticos lógicos.

Resolução

A organização estrutural do excerto é caracterizada pelo dinamismo, que se dá pela inserção de frases nominais (“Mosaico estúpido. Mania de mosaico”) entre os períodos (= “sequências verbais”) do texto. 

Resposta: letra a. 

Enem 2021 – uso de pronomes

Questão 42 (caderno rosa)

Os linguistas têm notado a expansão do tratamento informal. “Tenho 78 anos e devia ser tratado por senhor, mas meus alunos mais jovens me tratam por você”, diz o professor Ataliba Castilho, aparentemente sem se incomodar com a informalidade, inconcebível em seus tempos de estudante. O você, porém, não reinará sozinho. O tu predomina em Porto Alegre e convive com o você no Rio de Janeiro e em Recife, enquanto você é o tratamento predominante em São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte e Salvador. O tu já era mais próximo e menos formal que você nas quase 500 cartas do acervo on-line de uma instituição universitária, quase todas de poetas, políticos e outras personalidades do final do século XIX e início do XX.

Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br. Acesso em: 21 abr. 2015 (adaptado).

No texto, constata-se que os usos de pronomes variaram ao longo do tempo e que atualmente têm empregos diversos pelas regiões do Brasil. Esse processo revela que

a) a escolha de “você” ou de “tu” está condicionada à idade da pessoa que usa o pronome. 

b) a possibilidade de usar tanto “tu” quanto “você” caracteriza a diversidade da língua. 

c) o pronome “tu” tem sido empregado em situações informais por todo o país. 

d) a ocorrência simultânea de “tu” e de “você” evidencia a inexistência da distinção entre níveis de formalidade.

e) o emprego de “você” em documentos escritos demonstra que a língua tende a se manter inalterada.

Resolução

Na primeira parte do texto, fala-se sobre o uso inconcebível do tratamento “você” como marca de informalidade, ao se dirigir ao Professor, em determinada época. Numa segunda, sobre o uso dos pronomes em determinadas regiões brasileiras: 

– “tu”: em Porto Alegre;

– “você”: em São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte e Salvador;

– “tu” e “você”: no Rio de Janeiro e Recife.

Resposta: letra b.

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