A Máquina Faltando somente um minuto para a hora marcada, às onze e cinquenta e nove
exatamente, Antônio entrou na máquina de sua própria morte, feita com suas próprias mãos, e
todos os olhos, todos os ouvidos, todas as câmeras e todos os microfones do mundo apontaram
para ele, um patrocínio Alisante Karina, ele vai morrer de amor por você.Se pudesse divulgar o que estava sentindo, sem trazer inquietação ao coração de Karina, talvez
Antônio tivesse confessado ali mesmo, pro mundo todo ouvir, que estava com um medo
desgraçado, sabe o verbo medo? Mas não parecia. Quem olhava para ele, ou seja, o mundo
inteiro, não diria nunca que se tratava de um homem que sentia um frio no espinhaço.
E foi então que deu a hora certinha que Antônio tinha marcado para partir, meio-dia em ponto,
cinco, quatro, três, dois, um, Ave-Maria, e seu coração disse pra sua cabeça, vá, e sua cabeça
disse pra sua coragem, vou, e sua coragem respondeu, vou nada, mas Antônio não ouviu. E
quando as setecentas lâminas da máquina da morte botaram para funcionar, todas elas ao
mesmo tempo, na maior ligeireza, o mundo todo que estava esperando para ver tripa de Antônio,
sangue de Antônio, osso de Antônio virar pó, não viu foi coisa nenhuma.

6. (UERJ) No fragmento, há simultaneamente dois processos de uso da figura de linguagem.
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